Publicado em: 04/09/2023
O aumento do abate de bovinos durante o primeiro
semestre de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022, revela uma
dinâmica interessante no setor pecuário. De acordo com dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aumento foi de 8,0%. Isso
resultou no abate de 15,6 milhões de cabeças. A distribuição desse aumento ao
longo dos trimestres foi a seguinte: 7,3 milhões de cabeças foram abatidas no
primeiro trimestre, representando um aumento de 4,8% em relação ao mesmo
período de 2022, enquanto no segundo trimestre foram abatidas 8,3 milhões de
cabeças, refletindo um aumento ainda mais significativo, de 11,0%, em relação
ao segundo trimestre de 2022.
Esse quadro pode ser atribuído ao aumento do
abate de fêmeas, de matrizes. No primeiro trimestre de 2023 foram abatidas 3,3
milhões de fêmeas, o que correspondeu a 45,0% dos abates e 43,0% do total de
abates de fêmeas do primeiro semestre de 2022.
O IBGE fundamenta as estimativas de abate em
dados formais, ou seja, considera os abates registrados nos sistemas de
Inspeção Federal (SIF), Inspeção Estadual (SIE) e Serviço de Inspeção Municipal
(SIM). Em comparação com outros órgãos de pesquisa e levantamento de dados, é
possível identificar discrepâncias entre os números, como no USDA, que também
incorpora informações sobre abates informais em suas análises. Essa mudança na
participação de fêmeas no abate está relacionada à desvalorização do bezerro. O
Brasil está na fase de baixa no ciclo pecuário, levando a um aumento no abate
de fêmeas e, consequentemente, a uma maior oferta de carne no mercado. Isso,
por sua vez, pressiona os preços da arroba do boi gordo, resultando em sua
desvalorização. Esses preços baixos desestimulam os produtores, levando-os a
reduzir rebanhos e investimentos, o que contribui para o aumento do abate de
fêmeas. A perspectiva é de que a participação de fêmeas no abate de bovinos
continue aumentando por um período considerável.
Ao analisarmos a tendência do peso médio dos
bovinos, em ponto de abate, ao longo dos anos, é notável um aumento
consistente. No comparativo de 2015 até 2023 houve um incremento de 9,0%, em
média, no peso vivo (PV). No entanto, em 2023, aconteceu uma redução média de
2kg. Essa redução está relacionada ao aumento da quantidade de fêmeas no abate
que, em comparação com os machos, têm um peso médio menor e, consequentemente,
um rendimento de carcaça mais baixo. Figura 2. Média de peso das fêmeas ao
abate, em kg de peso vivo, ao longo dos primeiros semestres, exceto em 2023
(primeiro trimestre).
Tradicionalmente, os bovinos eram abatidos
quando atingiam a maturidade, geralmente com idade avançada. No entanto, a
tendência emergente tem sido o abate de bovinos jovens, porém mais pesados.
Essa mudança está associada a uma série de fatores, incluindo avanços na
genética, manejo alimentar e melhores práticas de produção. A introdução de raças de
bovinos de corte de rápido crescimento e alta eficiência de conversão alimentar
permitiu que os bovinos atingissem pesos mais elevados mais jovens. Isso é
vantajoso em termos de eficiência de produção, ao permitir um ciclo de produção
mais curto e utilização mais eficaz dos recursos. Nesse contexto, as fêmeas
desempenham um papel crucial. A decisão de abater ou manter as fêmeas
influência diretamente a produção de carne bovina. Se mais fêmeas são mantidas
em reprodução, isso pode levar a um aumento na oferta de carne no futuro, pois
essas fêmeas terão descendentes. Por outro lado, se mais fêmeas são abatidas, a
oferta de carne pode aumentar temporariamente, mas há o risco de uma redução na
produção de carne a longo prazo, uma vez que menos fêmeas estão disponíveis
para a reprodução. Portanto, o equilíbrio entre abater fêmeas e machos é uma
consideração crítica para a indústria de carne bovina no Brasil. É uma decisão
que afeta não apenas a produção atual, mas também a capacidade de atender à
demanda futura por carne bovina, influenciando assim os preços e a dinâmica do
mercado.
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