Publicado em: 07/09/2023
Pesquisadores desenvolveram uma raça capaz de
produzir até três arrobas a mais, cruzamento de animais da raça Belgian Blue e
Nelore permitiram a criação do Nelore Myo. Após mais de uma década de estudos,
pesquisadores desenvolveram uma raça capaz de produzir até 3 arrobas a mais,
comparada as demais raças, e isso se deve ao melhor rendimento de carcaça (RC),
chegando à 60%. O estudo foi desenvolvido em conjunto por pesquisadores da
FMVA/UNESP Araçatuba, médico veterinário Rodrigo Alonso, UFRJ, professor Amílcar
Tanuri, e Departamento de Reprodução Animal da USP. Nelore Myo ganha destaque
na pecuária de corte brasileira! “Na pecuária de corte brasileira, o Nelore
predomina. O nosso objetivo foi realizar cruzamentos guiados por testes de DNA
entre as raças Nelore e Belgian Blue para criar uma linhagem com todas as
vantagens da raça Nelore como rusticidade, adaptabilidade e fertilidade. Porém,
que tivesse a variante no gene da miostatina, que faz o gado ser mais
musculoso, com melhor desempenho em ganho de peso e rendimento de carcaça maior
que o nelore tradicional”, explica o médico veterinário, doutor em reprodução
animal, Rodrigo Alonso, à frente do projeto desde 2004.
Amílcar Tanuri, professor da UFRJ relata que
através desse cruzamento de animais da raça Belgian Blue e Nelore (ilustração
abaixo), eles conseguiram chegar a um animal com maior rendimento de carcaça, e
com maior maciez na carne. O professor também relata que este pode ser um meio
mais sustentável de produzir carne, já que se consegue colocar mais carne por
animal em uma menor área, ou seja, a produção aumentaria sem precisar aumentar
áreas de pastagem.
A complementariedade entre as raças é que faz o produto final ser interessante
para o Brasil, já que traz a musculosidade do Belgian Blue, raça que tem como
característica a mutação no gene da miostatina, fazendo com que não ocorra a
inibição do crescimento muscular, e o já o conhecido Nelore, o qual traz a
adaptabilidade, rusticidade e habilidade materna, o que suporta produzir carne
em climas tropicais como o Brasil. Quando esse gene está alterado, ele permite
que o tecido continue crescendo. Por isso, o número de células no músculo
aumenta e, consequentemente, se alcança melhores RC. “Passamos de 53% a 55%
para 60%, em termos de aproveitamento. No primeiro abate técnico, houve um
ganho de três arrobas. Pela cotação atual do boi gordo, isso dá um ganho extra
de R$ 365 por animal. O Nelore Myo parece mais pesado, mas ele tem mais massa
magra, muscular. Por isso, tem mais carne com o mesmo peso”, afirma Alonso,
coordenador científico do projeto.
O que podemos esperar é uma crescente procura
por animais fruto desse cruzamento, pois a proposta em que os pesquisadores
sustentam está fundamentada em pesquisas com formato científico com aplicação
prática viável. O que temos ainda que nos atentar é com relação ao acabamento
de carcaça, já que animais da raça Belgian Blue são tardios e precisam de um
pouco mais de tempo para começarem a depositar gordura, além
de apresentar alta incidência de partos distócicos.
E o parto, tem problemas? Sobre a preocupação com a incidência de partos com distocia, Alonso tranquiliza ao mencionar que os pesquisadores estão avaliando a fertilidade, facilidade de parto e peso ao nascimento dos bezerros Nelore Myo à mais de 4 gerações. Os animais heterozigotos, que vão ser produzidos à campo, nascem com média de 37kg, 5kg acima do Nelore padrão, e até o momento não houve relatos de problemas no momento do parto.
Alonso ainda complementa que os pesquisadores já estão com um rebanho de cerca de 500 animais Myo Nelore de diferentes idades e graus de pureza de Nelore, todos com mutação, sendo que 50 bezerros da 5º geração são 100% Nelore com mutação, e ainda contam com 20 mil doses de sêmen disponíveis para produtores interessados no projeto Nelore Myo. Desta forma, logo teremos a confirmação prática comercial se esta nova raça será economicamente viável para os produtores.
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