Publicado em: 01/12/2021
PREJUÍZO E
MENOS BOI NO CONFINAMENTO: COMO EMBARGO CHINÊS AFETA PECUARISTAS?
Desde o início
do embargo, o Brasil deixou de arrecadar o equivalente a R$ 11 bilhões, segundo
a Safras & Mercado; veja relato de produtores. O abate de bovinos no Brasil
chegou ao menor patamar de quase duas décadas. O cenário é resultado do embargo
da china à carne brasileira, adotado no início de setembro. Segundo o Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em outubro, o número de abates ficou
abaixo de 2 milhões de cabeças de gado, 30% a menos do que em agosto, por
O confinamento
do Victor Campanelli, no interior de São Paulo, foi bastante afetado com a
restrição chinesa. A situação do local foi totalmente modificada após as
restrições anunciadas pelo país asiático.
“O confinador
viveu talvez por um dos piores momentos da história da pecuária. Passamos por
uma volatilidade de preço que é anormal no boi gordo”, diz Campanelli. Embargo
chinês à carne bovina reduziu volume de animais confinados do pecuarista Victor
Campanelli. Desde que foi afetada pela peste suína africana, a china se tornou
um dos principais clientes da carne bovina brasileira. Até setembro, o país
asiático correspondia a quase 50% das vendas do Brasil no segmento. A China é
um mercado com características diferenciadas, que exigiram do Brasil uma
adequação enorme em toda cadeia que passou a focar em animais mais jovens de
até 30 meses, dando origem ao chamado boi padrão ‘China’. Um gado que não pode
ser produzido no modelo tradicional, a campo. Por isso, o embargo inesperado
trouxe reflexos nunca antes vistos. “Eu nunca havia visto esse
‘desconfinamento’, que é quando você pega o animal pronto para o abate e solta
no pasto. Outra coisa que me chamou a atenção foi o ‘reconfinamento’, ou seja,
pegar o animal que foi solto no pasto para colocá-lo de volta ao confinamento”,
ressalta o presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon),
Maurício Velloso. O problema começou quando dois casos atípicos do mal da vaca
louca foram notificados no rebanho brasileiro. Para cumprir o protocolo
sanitário entre os dois países, o Brasil suspendeu a exportação para a China
por 13 dias. Mas os chineses decidiram manter o embargo, mesmo após a
Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) confirmar que os registros não
representavam risco à saúde humana. “Esse embargo à carne brasileira nada mais
é que um instrumento de obrigar o Brasil a baixas os preços da carne exportada”
avalia o presidente da Assocon. Desde o início do embargo, o Brasil deixou de
arrecadar o equivalente a R$ 11 bilhões, segundo a Safras & Mercado. Se a
situação não for revertida, e o valor pode ultrapassar R$ 17 bilhões ao final
de 2021.
Na última
semana, a China autorizou o envio de carne bovina que estava certificada até 4
de setembro, antes do embargo. A liberação parcial ajudou a dar vazão a contêineres
que estavam parados, como em Lins, no interior de São Paulo, onde a JBS opera
com dois terminais. De acordo com a indústria, o mercado já se adaptou à
ausência da China com a redução de abate nos frigoríficos. “Em setembro e outubro, a entrada de
matéria-prima no confinamento ficou estabilizada, porque o mercado interno
precisava de acomodação nos preços. Nesse sentido, os boiteis e os
confinamentos viram um enxugamento na entrada de animais. Mas, a partir de
novembro, o mercado começa a se estabilizar com a retomada do boi magro no
cocho para engorda”, explica José Roberto Bischofe, gerente-executivo de
confinamento da JBS.